Nos últimos tempos, tem sido evidente o aumento do consumo de etanol por parte dos brasileiros, em contraponto às dificuldades enfrentadas pela indústria do setor devido aos preços. Esse fenômeno não é apenas uma questão de preferência pessoal, mas também está intrinsecamente relacionado às oscilações dos valores dos combustíveis, especialmente em comparação com a gasolina. Em meio a esse cenário, uma pesquisa conduzida pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) trouxe à luz importantes insights sobre o comportamento dos motoristas em relação à escolha entre gasolina e etanol.
De acordo com a pesquisa, existe uma “regra dos 70%” amplamente reconhecida no mercado de combustíveis, que indica que os motoristas tendem a optar pelo etanol quando seu preço está abaixo de 70% do valor da gasolina. No entanto, mesmo com esse princípio estabelecido, a realidade mostra que apenas uma minoria dos proprietários de veículos flex tem conhecimento dessa relação de preços. Dos entrevistados, apenas quatro em cada dez estão cientes dessa regra, evidenciando uma lacuna significativa de informação.
Além da falta de conhecimento sobre a “regra dos 70%”, a pesquisa revela que uma parcela considerável de motoristas raramente ou nunca realiza os cálculos para determinar a vantagem financeira entre abastecer com etanol ou gasolina. Apenas 17% dos entrevistados afirmam sempre fazer esses cálculos, enquanto a maioria, representando 82.4%, só os realiza ocasionalmente ou nunca. Essa falta de análise pode resultar em decisões menos econômicas na hora de abastecer.
Surpreendentemente, os dados mostram que aqueles que fazem os cálculos tendem a preferir o etanol, o que sugere uma economia potencialmente maior para esses motoristas. Dos que optam pela gasolina, mais da metade não realiza os cálculos, enquanto quase 60% dos adeptos do etanol o fazem regularmente. Essa diferença de comportamento evidencia a importância da informação na tomada de decisão.
No entanto, para a maioria dos consumidores, a escolha entre etanol e gasolina se resume principalmente ao fator preço. Para 78% dos entrevistados que optam pelo biocombustível, a simples economia proporcionada pelo etanol em relação à gasolina é o principal motivador. Essa tendência é reforçada pelo contexto atual, no qual a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Única) lançou uma campanha para promover o consumo de etanol, visando estimular a demanda em face dos baixos preços.
No entanto, questões como sustentabilidade e impacto ambiental parecem ter uma influência limitada nas decisões dos motoristas. Apenas uma pequena porcentagem, 4,4%, escolhe o etanol por sua baixa pegada de emissões, enquanto os “ambientalmente conscientes” representam apenas 1,6% do total. Mesmo que 12,6% reconheçam a sustentabilidade como uma vantagem do etanol, essa percepção ainda não é suficiente para incentivar uma mudança significativa de comportamento.
Um fator que contribui para essa relutância em adotar o etanol como escolha preferencial é a persistência de mitos em torno dos dois combustíveis. Muitos motoristas ainda acreditam que a gasolina oferece maior autonomia e potência aos veículos, além de manter o motor mais limpo. No entanto, essas ideias são desmistificadas por especialistas, que apontam que o etanol pode proporcionar até mais potência e que não há evidências de que a gasolina seja mais benéfica para a saúde do motor.
Além disso, questões como a evaporação mais rápida do etanol e sua suposta dificuldade de adulteração são esclarecidas, mostrando que esses elementos têm pouco impacto prático no consumo e na qualidade do combustível. No entanto, esses mitos persistem e contribuem para a perpetuação de ideias errôneas entre os consumidores.
